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martaleal

... Blogger, coach, mentora, palestrante, autora, contadora de histórias, formadora e uma apaixonada pela vida ...

Protegemos tanto os nossos momentos que a ligação de vida se tornou ténue, e a de alma se fortaleceu

Marta Leal, 03.01.20

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Confesso-te que passam dias ou mesmo meses em que não me recordo de ti. Embrenho-me em tudo o que decidi fazer e deixo que a vida me conforte a alma.  A verdade é que sempre que me lembro de ti o meu coração aquece, e o meu rosto sorri. Passaram tantos anos,  mas a nossa ligação, mesmo que tímida, mantém-se contra todas as expectativas. As mensagens que surgem do nada, os encontros que o universo provém nos locais mais improváveis, e as conversas que aceleram os ponteiros do relógio.

Venho extasiada com o nosso encontro. Foi uma verdadeira surpresa este teu convite mesmo no final do ano terminar. E foi fantástico que te conseguisse dizer que sim. Esse sempre foi um problema muito nosso, a incompatibilidade de agendas ou não fossemos os dois tão dedicados às carreiras.  Adorei o modo como me abraçaste na chegada, mas principalmente aquilo que senti na partida. Sinto-te tanto, posso-te até dizer que cada vez que estamos juntos te sinto cada vez mais.  A maravilha do envelhecimento é esta, não é verdade? Passamos a dar importância a todos os momentos que criamos sejam eles mais ou menos íntimos. Não quero dizer que não sinta saudade dos tempos em que nos amávamos pela casa toda e, do  modo como insistias em dormir agarrado a mim. O que quero dizer é que a nossa ligação é de almas, e isso sente-se a cada dia que passa. Já não somos os melhores amigos e, nem sei se algum dia o chegámos a ser. Protegemos tanto os nossos momentos que a ligação de vida se tornou ténue, e a de alma se fortaleceu.  Fomos sempre duas almas que pouco sabiam um do outro, mas que também nunca precisaram de o saber. 

Afinal não ficámos juntos, mas continuamos para sempre. O que não deixa de ser interessante. Sabias que momentos houve em que pensei que afinal não éramos para sempre? Principalmente quando as nossas decisões nos levaram para outros países, outros caminhos, e outras relações. Estava a tentar lembrar-me se estivemos algum ano sem nos falarmos. Sem nos vermos sim, mas sem nos falarmos acredito que não. Ainda há pouco tempo alguém me perguntava se eu acreditava se se podia amar duas pessoas ao mesmo tempo. Depois de te ter conhecido acredito que sim. Acredito que me posso apaixonar novamente, mas que o nosso amor vai ficar sempre guardado em mim. Existem amores que mesmo que não sejam vividos se mantém por toda a eternidade.

in "eu e tu somos para sempre"

 

E se eu te dissesse que sabia que estavas aí?

Marta Leal, 09.12.19

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"Tens insistido tanto para que eu me divirta, e para que eu me permita por isso escrevo-te para te contar que estou feliz não só no viver, mas no sentir. A minha alma solta gargalhadas como há muito tempo não o fazia e, o meu sorriso é intenso de tanta felicidade. 

Tudo o que te confidenciava  em sonhos está a acontecer. Lembras-te do dia em que te disse que algo tinha mudado? Que sentia que algures no tempo, e no espaço estavas à minha espera. Lembras-te de me teres tocado no rosto, e beijado os olhos com uma ternura que nunca senti? Depois sorriste, tens o hábito de sorrir perante os meus sentires e os meus devaneios. 

Pedes para que te explique, mas não sei se consigo, as minhas palavras não acompanham o meu sentir. Desconfio até que não existem palavras para sentires intensos e, eu nem sou uma pessoa parca de palavras. Como se traduz aquilo que a nossa intuição nos diz? Como se traduz uma certeza pouco racional? Como se traduz o sentir da alma?

Só te posso dizer que sabia. Sabia que estavas aí bem perto à espera, sem saber que esperavas. Confesso-te que, por vezes, falava contigo não só em sonhos, mas também em pensamento e, pedia-te para que avançasses. Que a saudade do que nunca tive apertava, que os teus beijos me faziam falta, e que o meu corpo precisava do teu toque. Tantas saudades dos abraços que nunca  me deste. Pedia-te para que avançasses, que estava pronta, mas talvez não estivesse ou terias chegado mais cedo. Sabes o que se diz sobre o tempo das almas? É um relógio onde os números são amor e os ponteiros ação. Quando estamos prontas reconhecemos-nos das mais variadas formas e a atracção é tal que perdemos a razão, ou como tu lhe chamas, a rigidez. 

Sabia, e já te tinha reconhecido há uns tempos. Reconheci-te o olhar que me era familiar. Reconheci-te a sabedoria e a delicadeza. Reconheci-te e esperei que me reconhecesses."  

in "eu e tu somos para sempre"

 

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António da Fonseca, ilustre Jogador dos Murros da Porta

Marta Leal, 04.02.15

 

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Nos últimos dias António da Fonseca, ilustre jogador dos Murros da Porta, andava cabisbaixo. Vagueava rua acima e rua abaixo, enquanto coçava a cabeça, ali bem juntinho à nuca, mesmo onde pais e mães durante gerações e gerações perscrutavam e espiolhavam em busca de piolhos e lêndeas. Coçava tanto que até já tinha uma espécie de vermelhão de tal tom que se podia avistar a uma certa distância e, calcule-se, a olho nu.

 

O vaguear de António era acompanhado pelas conjecturas de todos os que o conheciam. É verdade, meus caros, para cada passo de António era formulada uma teoria. Da mais simples à mais elaborada. Houve até quem dissesse que uma noite dessas vira o ponta de lança a ser raptado por uma nave espacial e que lhe tinha colocado um implante, daí o vermelhão, ali mesmo, na nuca. Teorias não lhes faltava o que lhes faltava era a coragem de perguntar. Acredito que tinham medo de perguntar porque todos tinham medo da resposta.

 

O que ninguém sabia é que António da Fonseca se sentia frustrado na missão que desempenhava e naquilo que fazia na vida. Por muito bom que fosse a marcar golos, o que também não era difícil tendo em conta que os únicos que lhe faziam frente eram o Zezinho zarolho, o Ernesto manco e o Ricardo barrigudo, não era ali que se sentia feliz. António da Fonseca sempre fora dado ao tricô e aos trabalhos manuais e em vez disso dava pontapés numa bola e comemorava com murros na primeira porta que encontrasse. Contrariam-se as vontades e mais tarde ou mais cedo as verdades vem ao de cima.

 

Fora ele que tricotara todos os cachecóis do clube alegando que os tinha encomendado a uma fábrica lá para os lados da China. Acreditaram todos, tal era a perfeição do trabalho ou o desinteresse pela origem dos mesmos.Mas tudo mudara nos últimos dias uma vez que António tinha sido seleccionado para um campeonato internacional de malha de meia e trena que o podia levar longe no mundo das malhas e afins. Sorria quando se imaginava a ser agulha de ouro na próxima atribuição de prémios. Acreditem que nesses momentos os olhos enchiam-se de lágrimas de emoção. Desgastava-se nas dúvidas existenciais que esta decisão impunha e por isso o viam vagueando perdido em seus pensamentos. Levo o casaco bordou ou a camisola verde? Perguntava-se ele enquanto subia e descia a rua num frenesim aflitivo sem se aperceber dos olhos postos nele e das histórias que giravam à sua volta. Era assim António da Fonseca homem muito dado às malhas e que insistia dar-se aos murros e aos pontapés.