Preciso que a alma se mantenha quente, preciso de me lembrar do que é amar.
Eu sei que lhe disse que iria recolher-me mais uma vez e esquecê-lo por momentos. Mas como se esquece o que nos faz bem? Eu sei que lhe disse mas não consegui cumprir. Interessante como quando lhe escrevo me sinto mais perto de si. E ao estar mais perto de si estou tão mais perto de mim. Interessante como quando lhe escrevo me sinto tão próxima de quem fomos. Somos sempre a soma de quem nos rodeia, não é verdade? Escrevo-lhe porque tal como me disse um dia nada melhor do que as palavras ao serviço dos amantes. Escrevo-lhe porque nos últimos tempos era a escrita que nos embalava. Essa mesma escrita que sempre me embalou e encantou.
Daqui de onde lhe escrevo sinto-me cada vez mais triste com o mundo onde vivemos. Continuo a ter pouco contacto com as noticias mas as que chegam até mim são pouco animadoras. Não. Não pense que me refiro aos últimos atentados. Refiro-me sim à maldade e à ofensa gratuitas de quem tudo sabe e quem tudo julga. E era justamente nesta altura que entrariam as suas palavras sábias sobre um mundo que sempre assim foi e que sempre assim será .
Saudades suas ou saudades minhas quando estou consigo. Não sei, só sei que são saudades que me fazem sorrir e recordar. Não sei o que há em si que tanto me seduz e não sei o que há em mim que tanto nos afasta. Por hoje despeço-me mas desta vez sem certezas de não voltar. Preciso que a alma se mantenha quente, preciso de me lembrar do que é amar.