A bela, o princípe e o beijo
Cresci ao som de histórias de encantar e devorava-as a torto e a direito. Gostava de todas mas a bela adormecida era de longe a minha preferida. Foram justamente todas essas histórias que me fizeram acreditar em finais felizes, namorados em formato de príncipes e, que na luta entre o bem e o mal é possível o bem sair vencedor. Deve ser por isso que ainda hoje acredito em príncipes e princesas e em finais felizes. O que me confunde na sociedade actual é o fundamentalismo seja ele de que tipo for ou o preciosismo despropositado. Ao que parece, em Inglaterra, existe uma mãe que considera que este conto "passa uma mensagem sexual inapropriada" uma vez que a Bela não deu consentimento ao príncipe para ele a beijar.
Ora, cara mãe, o beijo só seria inapropriado se a intenção do príncipe fosse outra que não a de salvar a princesa do feitiço. Por outro lado, a Bela não poderia dar o consentimento porque não sabia do feitiço. Se soubesse ainda poderia deixar uma declaração autenticada a autorizar qualquer um a dar-lhe um beijo para despertar. Mas aí a cara mãe iria dizer que a Bela estava a passar a mensagem errada porque seria uma grande oferecida e, por outro lado, a Bela correria o risco de ser beijada por uma besta qualquer. Ora sem beijo de príncipe a Bela continuaria a dormir para toda a eternidade e isso teria consequências muito graves no imaginário de milhares de crianças por todo o mundo. Por um lado deixaríamos de suspirar e procurar o nosso príncipe encantado, por outro ficaríamos a acreditar que o mal vencia o bem. Já viu, cara mãe, como seria nefasto?
Sempre que olho para este beijo vejo uma mensagem de amor e carinho. Vejo amor, paixão e uma mensagem de que o amor acontece quando menos esperamos. Por muito que me esforce não consigo ver qualquer mensagem de cariz sexual. Mas deve ser porque só vemos aquilo que somos. No limite sinto uma certa inveja da Bela por nunca ter tido um príncipe que me despertasse. A verdade é que continuo a acreditar que um dia, talvez um dia!
Cá por casa o fim de semana foi de "kid's coaching" e o preenchimento é imenso. Sou das que se delicia nas histórias que eles contam e nas aprendizagens que me dão. Trabalhar com miúdos alimenta-me a alma e o sorriso. Gosto das expressões, das evoluções, das dúvidas, dos questionamentos e dos sonhos, sobretudo dos sonhos. Gosto dos que ainda têm as asas soltas e gosto daqueles cujas asas ajudo a soltar.
Faz da tua história inspiração!
Marta Leal